"Eu escrevo sem esperança de que o que escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada...Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)

domingo, 19 de junho de 2011

História e Literatura

A Literatura, guardando as devidas especificidades, tem algo em comum com a História: ambas registram acontecimentos. Apesar da literatura ser uma elaboração da imaginação do artista, ela incorpora o universo de sua época, misturando realidade com ficção. Na obra literária muitas vezes os personagens ficcionais se confundem com os da vida real. Desse modo, mesmo sem o compromisso com a objetividade científica, característica da história, a literatura recria tensões típicas da sociedade em que foi produzida, uma vez que é resultante da construção humana e social, já que cada indivíduo traz consigo sentimentos, experiências, ações, enfim, aspectos de sua época. Um bom exemplo dessa relação é a reprodução na ficção de valores morais e crítica social, que aparecem nas obras muitas vezes em forma de denuncia sócio-política.
Essa relação do contexto histórico com a obra literária transcende o caráter puramente artístico, pois o registro dos acontecimentos da sociedade que a literatura faz no decorrer dos tempos, tem permitido ao historiador assumi-la como uma fonte de pesquisa. A história e a literatura trabalham com memórias e as constroem, como registros de gerações e grupos sociais. Por um lado, a literatura trabalha com as possibilidades, onde projetos, desejos e frustrações são recuperados. De outro, a história, registra e analisa de forma empírica, metódica, fatos, acontecimentos políticos, sociais, econômicos já decorridos. De acordo com o historiador Nicolau Sevcenko, a literatura pode ser vista como um produto do tempo, e que na verdade trabalha com hipóteses e não com a realidade. Isto significaria que a literatura cria através do discurso um universo de idéias originadas da vida real, mas que apenas revela aspectos que poderiam acontecer.
Fonte: BASSO, Elisangela C.

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